Projeto Clicks&Teclas
Microfonia e afinação.
Se a vida é um show, quem é o
verdadeiro artista que sobe ao palco para cantar? Alguns dirão que somos nós
mesmos. Outros, que é Deus. Outros que é o destino. Os mais ousados dirão que é
a união de moléculas e a explosão do Big Ben. Acredito, e aí é uma opinião
pessoal, que o verdadeiro artista é a união do que somos e o que deixamos de
ser. Talvez, o cantor é o resultado, a consequência do que nos tornamos. É a
soma do passado com o presente, formando um resultado inesperado. Palavras
clichês cheias de filosofia. Um psicanalista, lendo este texto, poderia dizer
que tenho problemas ou que ando lendo muitos livros de psicologia ou, quem
sabe, fazendo o uso de alguma substancia ilícita. Mas incito as pessoas a se
perguntarem: “quem é o artista da sua vida?” Será o amor a estrela do show? Ou,
quem sabe, a falta dele? Ou, melhor, a esperança de um dia sermos só amor? Mas,
voltando à minha ideia, sigo o viés de que o artista é a consequência inesperada
de nós mesmos, aquela que nos faz parar, pensar e dizer: “quando que eu estaria
fazendo-dizendo isso”. Talvez, em outras palavras, o artista principal da nossa
vida seja a sutil surpresa, o inesperado, o inabitável e assustador ponto de
exclamação que não conhecemos. Entretanto, para chegarmos a este ponto, passamos
por tantas vírgulas, tantos pontos-finais, tantos de interrogação, tantos
pontos-vírgula e até os dois pontos. Por isso, o resultado é o nosso artista. O
artista que ninguém conhece. A transformação. Está ai o nosso artista:
transformação. A mutação rotatória de nós, seres pensantes. A ideologia
mutável, questionável de nós mesmos sobre nós. Sobre quem fui, quem sou e o que
serei, quem serei, como serei, quando serei. Todos têm um artista preferido,
mas poucos interpretam bem suas canções.
Texto: Matheus Bandeira
Imagem: Glênio Freitas Jr.
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